12 de dez. de 2014

Sobre essa vida "Sem salário nem carteira assinada"


Quem me conhece sabe que tenho dedicado os últimos sete anos da minha vida ao trabalho com projetos sociais em comunidades carentes.
Esse é o meu trabalho, meu emprego, meu ganha pão.
Sou voluntária de tempo integral, não recebo salário, não tenho patrão, não preciso bater ponto, não uso uniforme e nem tenho meta pra bater.
Essa parte é um pouco confusa, mas tem a ver com o estilo de vida que escolhi pra mim e com a "política" (não sei se é a melhor palavra) da organização da qual faço parte.

Em janeiro de 2007 decidi trocar carreira, emprego e salário por uma vida diferente.
Comecei trabalhando numa Casa Lar (um abrigo) para meninos em Vitória-ES, ao mesmo tempo, eu também era voluntária em outra casa para meninas... Pensa numa vida sem folga.
O contato com esses meninos e meninas transformou a minha vida. Era cada história cabeluda. Crianças que ao 6 anos já tinham mais experiência de vida do que eu aos 22 anos de idade, já que até essa idade eu vivia numa bolha de egoísmo, consumismo e futilidade. Nessa época, fui confrontada com um lado da vida que eu não conhecia. Crianças e adolescentes com trajetória de rua, violência, abusos físicos e tantas outras coisas terríveis que nem convém expor aqui.

Essas experiências me transformaram numa outra pessoa. Sentia vergonha dos valores que eu tinha vivido até ali. Nessa época, já não recebia mais salário e trabalhava dia e noite em função dos dois abrigos. Tinha um restinho de dinheiro que eu havia guardado do meu tempo de "vacas gordas em São Paulo" e depois que as economias acabaram, meus pais ajudavam com o básico.

Em julho de 2007, fui pra Jocum - Organização missionária da qual faço parte até hoje.
Participei de um treinamento básico que durou 5 meses. Nesse tempo, viajei para o interior do Tocantins onde me apaixonei ainda mais pela realidade das crianças. Nos deparamos ali com uma situação de pobreza e comecei a entender o que estou processando até hoje:

Mesmo nas piores situações, onde a pobreza e a falta dos recursos básicos é gritante, encontramos crianças sorrindo e com os olhos brilhando... Criança não reclama! Criança brinca, corre, abraça, briga e volta a brincar. A criança carrega a leveza e a alegria que a vida deveria ter.
(parece poesia, né?)

Esse foi o começo da vida que levo até hoje.
Muitas pessoas não entendem, outras não concordam e outras acham que é uma loucura viver como voluntária em tempo integral sem salário nem carteira assinada.

Essa é a minha vida, o começo da minha trajetória. Em 7 anos muita água rolou debaixo dessa ponte. Vou continuar esse relato em outro post, ok? 
Aguardem a 2ª parte da série "Sem salário nem Carteira Assinada"


Fotos do Tocantins

 
 

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